Uma boa noite de sono, embora natural e imprescindível à saúde, transformou-se em privilégio de poucos e em martírio de muitos nos tempos atuais. Ao menos, 42% da população mundial tem algum problema para dormir e em cerca de um terço das consultas médicas os pacientes reclamam da qualidade do sono, de acordo com pesquisas recentes. Em algumas regiões do planeta, como a África e a Ásia, por exemplo, 150 milhões de pessoas sofrem com noites mal dormidas, o que levou os governos locais a tratar a questão como epidemia.
Com tantas vítimas do mesmo transtorno é evidente que cientistas persigam soluções em forma de tratamentos e novas drogas. O que poucos sabem, no entanto, é que há muito tempo estudiosos tentam entender os mistérios do sono. Os primeiros relatos registrados são de 1.000 a.C. e até hoje não se sabe tudo sobre a real função deste período pelo qual passamos diariamente e quais são os caminhos para torná-lo mais eficiente e satisfatório. Existem inúmeras teorias baseadas em aspectos físicos e cognitivos que tentam descrever o sono. Um dos conceitos mais importantes foi criado em 1990 por Gualberto Buela-Casal, psicólogo espanhol especializado no tema, para quem o sono é um estado funcional, reversível e cíclico, com algumas manifestações comportamentais características, como uma imobilidade relativa e o aumento do limiar de resposta aos estímulos externos. Durante o sono, ocorrem variações dos parâmetros biológicos, acompanhados por uma modificação da atividade mental. A definição de Buela-Casal dá uma pista sobre a essencialidade e complexidade do que ocorre enquanto dormimos.
O que sabemos atualmente: o sono se divide basicamente em duas fases conhecidas por REM (Rapid Eye Moviment) e não-REM. O sono NREM possui três subfases com características específicas. A primeira (N1) é o estágio de transição, o início do sono; a N2 é a fase superficial, responsável por quase metade do período total de sono e, a N3, é quando ocorre a secreção e liberação de diversos hormônios, considerada a etapa mais profunda de sono. A fase NREM é responsável pela restauração física do indivíduo. O sono REM é o período onde ocorrem os sonhos e a restauração das funções cognitivas, como memorização, atenção e concentração.
É comum dizer que um adulto saudável deve dormir 8 horas por noite, mas esta afirmação é mais um dos mitos que se criou sobre assunto. Já se sabe que a quantidade ideal de horas de sono é uma variação individual. Algumas pessoas precisam de aproximadamente 5 horas de sono por noite – são os chamados curto-dormidores. Os longo-dormidores precisam de, no mínimo, 9 horas e os indiferentes, que constituem a maioria da população, dormem uma média de 7 a 8 horas por noite. A maior parte dos especialistas concorda que não há receita única para uma boa noite de sono. O ideal é dormir a quantidade de horas que seu organismo necessitar para que você acorde bem na manhã seguinte. Vale lembrar, porém, que, na maioria dos casos, somos obrigados a dormir menos do que gostaríamos. E dessa forma, passamos a viver, constantemente, privados de sono.
Resumindo: são muitos os problemas de sono existentes na sociedade em que vivemos, assim como são inúmeros os tratamentos e crescente o número de pesquisas sobre o assunto. E é sobre isso que trataremos nas próximas semanas. Entre as missões deste espaço está a de trazer novos dados e informações que garantam – aos que precisam – uma noite de bons sonhos.
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