sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Jogo online pode melhorar a cognição de idosos


O jogo online World of Warcraft (WoW) permite que você se torne um herói mítico e explore um mundo virtual fantástico e misterioso. Trata-se de um MMORPG (Massively Multiplayer Online Role Playing Game), um jogo no qual milhares de usuários, conectados ao servidor do game, escolhem entre vários personagens, de guerreiros a mágicos, e jogam ao mesmo tempo.
Mas o game parece ir além do puro entretenimento. Segundo uma pesquisa da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, idosos que jogam WoW aperfeiçoam seu funcionamento cognitivo. Cognição é o conjunto de processos mentais usados no pensamento, na percepção, na classificação, no reconhecimento, na memória, no juízo, na imaginação e na linguagem.
Os cientistas testaram a cognição de quase quarenta pessoas entre 60 e 77 anos, analisando habilidades como memória, capacidade de concentração e noção de espaço. Um segundo teste só foi realizado duas semanas depois, após parte dos voluntários ter jogado World of Warcraft por aproximadamente 14 horas diárias totais no período de duas semanas, e a outra parte ter mantido sua rotina normal.
Comparando os resultados dos testes, os pesquisadores encontraram um aumento muito maior na capacidade cognitiva dos idosos que passaram duas semanas jogando do que os que não experimentaram o game. A melhora foi ainda mais notável entre os participantes que não haviam apresentado bons resultados nos primeiros testes.
“Entre os participantes que pontuaram bem nos testes de funcionamento cognitivo iniciais, não houve melhora significativa depois de jogar WoW”, diz a Dra. Anne McLaughlin, coautora do estudo. “Mas nós vimos uma melhora interessante, tanto na habilidade de concentração como na de noção de espaço, entre os idosos que haviam apresentado baixa pontuação nos primeiros testes.”
O que se sabia sobre o assunto
Segundo a psicóloga Claudimara Chisté, estar constantemente em atividade, tanto física quanto mental, é fundamental para a manutenção do funcionamento cognitivo. “O jogo, dependendo de como for utilizado, pode ter uma vantagem: ele é lúdico. A pessoa se diverte, interage com seus pares, trabalhando tanto aspectos cognitivos quanto sociais”, diz.
Ela explica, no entanto, que pesquisas para investigar os efeitos da prática constante de um jogo específico na cognição de idosos são recentes, por isso os dados ainda são incipientes. Assim, ela considera o estudo americano relevante por abrir novas possibilidades de investigação. “Mais uma vez fica demonstrado que os estudos envolvendo o processo de envelhecimento e a cognição precisam ser sistematizados, para que possamos contribuir para a promoção de bem estar das pessoas”, diz Claudimara.
A pesquisa foi realizada com 39 participantes, por isso não pode ser generalizada, adianta a psicóloga. “Não podemos dizer que seus resultados valem para qualquer população, com quaisquer jogos. Novos estudos, porém, replicando os procedimentos, podem indicar resultados com mais precisão”, afirma.
Fazer com que o ser humano mantenha sua autonomia à medida que vai envelhecendo é um dos objetivos dos profissionais de saúde, segundo Claudimara. “Por isso é tão importante incluir no nosso cotidiano práticas que cuidem também dos aspectos cognitivos”, afirma.
Especialista: Claudimara Chisté Santos, doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo e docente da Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo e da Faculdade Brasileira.
Envolvimento com o assunto: Pesquisadora na área do envelhecimento, seu doutorado relacionou aspectos cognitivos e afetivos em idosos. Membro do Grupo de Trabalho “Os jogos e sua importância em psicologia e educação”, na Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP).

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