Mesmo antes de engravidar, Yolanda Marin-Czachor fazia o possível para evitar os aparelhos de raios X utilizados pelos agentes de segurança para examinar os passageiros do aeroporto. Agora ela é radical: ao invés de ser alvo de tanta radiação, ela prefere simplesmente ser revistada manualmente.
'Antes dessa gravidez, eu já passei por dois abortos espontâneos', afirmou Marin-Czachor, mãe e professora de 34 anos na cidade de Green Bay, no Wisconsin, 'e uma das primeiras coisas que meu médico disse foi: 'Não passe por essas máquinas. Ninguém fez estudos de longa duração com elas e eu prefiro que você fique longe delas''.
Existem 244 aparelhos de raios X por 'retrodifusão' sendo utilizados em 36 aeroportos dos Estados Unidos. Eles funcionam praticamente sem parar, de acordo com a Secretaria de Segurança no Transporte (TSA, sigla em inglês). Outros aeroportos utilizam aparelhos de ondas milimétricas, que se parecem com cabines de telefone e não utilizam radiação nem detectores de metal.
A maior parte dos especialistas concorda que enquanto os aparelhos de raios X por retrodifusão estiverem funcionando da maneira correta, eles expõem os passageiros a quantidades ínfimas de radiação ionizante.
Mas alguns especialistas são menos enfáticos e ainda existem dúvidas sobre a segurança do uso dos aparelhos de raios X em uma escala tão grande. Um estudo recente relatou que a radiação desses aparelhos atravessa a pele e chega até os órgãos. Em outro relatório, pesquisadores estimaram que, a cada bilhão de exames de raios X por retrodifusão realizados por ano, cerca de 100 casos de câncer poderiam ser causados pela exposição à radiação. A união europeia baniu aparelhos de raios X que utilizem radiação nos aeroportos; além disso, em diversos países europeus é ilegal submeter pessoas a exames de raios X por razões que não sejam médicas.
Os aparelhos movem rapidamente um feixe estreito com alta intensidade de radiação através do corpo e David Brenner, diretor do Centro de Pesquisa Radiológica no Centro Médico da Universidade de Columbia, se preocupa com a possibilidade de que problemas mecânicos possam fazer com que o feixe fique parado em um único local, causando uma grande exposição à radiação, mesmo que por poucos segundos.
Por razões de segurança, existe um segredo em torno de como esses aparelhos funcionam. A TSA afirma que os aparelhos foram avaliados pela Agência Reguladora de Alimentos e Medicamentos, pelo Comando de Saúde Pública do Exército Americano e pelo Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins.
Mas os pesquisadores dessas instituições nem sempre tiveram acesso direto aos aparelhos em uso, e alguns dos relatórios publicados sobre eles sofreram enormes edições e tiveram os nomes dos autores removidos. Cientistas independentes afirmam que a falta de acesso limitou sua capacidade de avaliar os sistemas.
John Sedat, professor emérito de bioquímica e biofísica na Universidade da Califórnia, em San Francisco, acredita que a dosagem verdadeira possa ser até 45 vezes mais alta do que a estimada pela TSA, ou cerca de 10 por cento de um exame de raios X na caixa torácica.
Autoridades da TSA negam a afirmação dos cientistas de que é difícil medir corretamente a dose de radiação recebida pelos passageiros, dizendo que os equipamentos são inspecionados pelo menos uma vez ao ano e que eles possuem sistemas de desligamento automático no caso de falhas.
Entretanto, os equipamentos já apresentaram problemas mecânicos. Um recente relatório da TSA afirmou que entre maio de 2010 e maio de 2011 foram emitidas 3.778 oderns de serviço em função de problemas mecânicos nos aparelhos de raios X por retrodifusão. Foram realizadas análises de segurança em apenas 2 por cento dos casos.
Em uma carta enviada à Secretaria de Saúde e Serviços Humanos em 12 de outubro de 2010, cientistas afirmaram que 'a natureza casual da manutenção desses equipamentos causa preocupação. Essas máquinas são capazes de irradiar grandes doses de raios X'.
Além disso, 'os hospitais geralmente procuram diariamente por problemas em seus equipamentos de raios X'.
Boa parte daquilo que se sabe a respeito dos riscos da exposição à radiação se baseia nas doenças que acometeram o Japão após a Segunda Guerra Mundial.
Autoridades da TSA afirmam que pequenas doses de radiação são seguras para qualquer pessoa, incluindo mulheres grávidas, bebês e crianças pequenas, embora as crianças sejam significativamente mais sensíveis aos efeitos da radiação.
Entretanto, as pessoas que correm o maior risco são os funcionários da TSA e as outras pessoas que trabalham nos terminais, uma vez que elas passam pela segurança diariamente. Um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho com os equipamentos de raios X dos aeroportos em 2004 pedia que a secretaria fornecesse detectores de radiação para seus funcionários, com o objetivo de monitorar de forma sistemática sua exposição à radiação, assim como muitos hospitais e laboratórios fazem, além de destacar melhor a presença dos equipamentos. A secretaria não acatou o pedido.
Mesmo que o risco para a saúde dos passageiros seja pequeno, as sugestões a seguir podem ajudar quem deseja reduzir sua exposição à radiação:
– Chegue cedo ao aeroporto. Isso lhe dá mais tempo para passar pela revista manual, caso prefira.
– Caso você esteja ou acredite estar grávida, informe um agente da TSA. Ele pode permitir que você passe apenas por um detector de metais, sem necessidade de exames adicionais.
– Quanto mais nova for a criança, mais sensível ela é à radiação. Funcionários da TSA não exigem que crianças com menos de 13 anos sejam submetidas ao exame em equipamentos de raios X, ainda que a agência negue a existência de uma regra a esse respeito.
– Caso esteja preocupado com quaisquer problemas médicos, você tem o direito de optar por uma revista manual feita por um funcionário da TSA.
The New York Times News Service/Syndicate – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.
Nenhum comentário:
Postar um comentário