domingo, 18 de novembro de 2012

Indo aonde ninguém jamais foi

Pesquisadores brasileiros preparam a primeira missão de exploração espacial do país, cujo plano ambicioso é lançar, em 2017, a sonda Áster e fazê-la orbitar um asteroide triplo dois anos depois. A missão Áster é o tema de capa da CH de novembro.
Por: Elbert Macau, Othon Winter, Haroldo de Campos Velho e Alexander Sukhanov
A missão Áster se apoia nos valiosos desenvolvimentos tecnológicos sobre satélites espaciais que o Brasil acumulou nos últimos 30 anos. O país terá a chance de colocar em prática esse amplo conhecimento. (foto: T. Pyle/ Nasa JPL-Caltech)
Áster deverá ser a primeira missão brasileira de exploração espacial. Sua meta é ambiciosa: orbitar um asteroide triplo e descer no maior deles. Batizado 2001-SN263, esse sistema é formado por um objeto central (2,8 km de diâmetro) e outros dois menores (1,1 km e 0,4 km de diâmetro) – os dois últimos descrevem órbitas em volta do corpo central.
O 2001-SN263 dá uma volta em torno do Sol a cada 2,8 anos, em trajetória que vai de uma região além da órbita de Marte (a meio caminho de Júpiter) até perto da Terra. O plano da missão Áster é lançar a sonda em 2017 e entrar em órbita do sistema de asteroides dois anos depois.
A missão se apoia nos valiosos desenvolvimentos tecnológicos que, ao longo dos últimos 30 anos, o Brasil acumulou sobre satélites espaciais. O país tem agora a chance de testar em voo esse amplo conhecimento, produto do esforço e da dedicação de décadas de muitos especialistas.
A missão Áster visa não só fazer avançar a ciência, mas também incrementar tecnologias capazes de gerar subprodutos que possam trazer riqueza e bem-estar para a sociedade
A missão Áster visa não só fazer avançar a ciência, mas também incrementar, no país, tecnologias sensíveis capazes de permitir outras missões espaciais de igual complexidade e (principalmente) de gerar subprodutos que possam trazer riqueza e bem-estar para a sociedade.
Essa iniciativa arrojada deverá esquentar seguramente o debate sobre a questão espacial no Brasil, colocando o Programa Espacial Brasileiro na ordem do dia, como política de estado prioritária, compatível com a vocação espacial do país e com sua atual posição geopolítica e econômica no cenário global.


Fósseis e remanescentes

Entre os asteroides, há aqueles que se formaram a partir da nuvem primitiva que deu origem ao sistema solar e não mais sofreram processos radicais que os modificassem. Outros são os remanescentes do processo de colisão entre objetos maiores.
Os primeiros são verdadeiros ‘fósseis’, pois nos permitem conhecer a composição e a distribuição dos elementos que estavam presentes na nuvem primitiva. Os segundos revelam pistas preciosas sobre os mecanismos que levaram à formação dos objetos maiores de nosso sistema solar.
Centenas de milhares de asteroides já foram identificados, e os principais dados de suas órbitas catalogados. A grande maioria deles tem extensão na casa das centenas de metros. Estima-se que haja mais de 1 milhão deles maiores que 1 km – alguns com centenas de quilômetros.
Grande parte dos asteroides se distribui na região entre as órbitas de Marte e Júpiter. Mas vários têm trajetórias que se aproximam da órbita da Terra: são os objetos próximos da Terra ou OPTs.


Surpresas: duplos e triplos

Surpreendentemente, em 1994, descobriu-se que o asteroide Ida tinha um satélite, sendo, portanto, um sistema binário – até então, pensava-se nos asteroides como corpos solitários.
Nos anos seguintes, dezenas de outros binários foram descobertos. Em 2005, outra surpresa: Sylvia, um asteroide com dois satélites. Hoje, é conhecida cerca de uma dezena desses sistemas triplos.
Nosso interesse recai sobre o 2001-SN263, OPT descoberto em 2001 e que somente em 2008 foi identificado como sendo um sistema triplo. Em 2019, chegará a cerca de 150 milhões de km da Terra, a mesma distância que separa o Sol de nosso planeta.

Duas imagens do sistema triplo 2001-SN263, reproduzidas a partir de dados obtidos pelo radiotelescópio de Arecibo, Porto Rico, em fevereiro de 2008. (imagens: Radiotelescópio Arecibo)
O 2001-SN263 é o alvo da missão Áster, que pretende não só colher dados sobre a formação desse sistema triplo, mas também pousar na superfície de seu objeto principal.
É uma missão ousada. Poucas nações fizeram algo similar. Apenas três sondas espaciais foram enviadas para explorar asteroides: i) em 2000, a norte-americana Near-Shoemaker pousou no asteroide Eros; ii) três anos depois, a japonesa Hayabusa enviou imagens e coletou material do asteroide Itokawa; iii) lançada em 2007, a sonda Dawn, da Nasa (agência espacial norte-americana), visitou o asteroide Vesta em 2012.
No entanto, a Áster – igualmente uma missão de espaço profundo – será a primeira a ter como alvo um sistema triplo. E, diferentemente do Eros, Itokawa e Vesta, o 2001-SN263 tem características de um meteorito primitivo – portanto, pode conter material orgânico, tema sempre relevante para o estudo da vida.

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